É para mim um grande privilégio encontrar-me hoje diante de tão ilustres personagens,com a finalidade de tecer algumas considerações sobre a obra de minha autoria, intitulada "Angolanidade e História" - forçando-me,deste modo, a ser "juiz em própria causa". Talvez por isso me sinta um pouco embaraçado em poder abordar, com rigor e isenção, um tema aparentemente simples mas que, sobretudo nos dias que correm, reveste-se de uma inegável complexidade, desde logo porque - por força de uma correlação lógica, de causa e efeito - os dois termos ("História" e "Angolanidade") nos remeterem, imediatamente, para o conceito (para alguns, polissémico) de "Identidade". A este respeito, apraz-me repartir convosco o seguinte episódio: no último sábado do passado mês de Junho do corrente ano, no habitual programa da Rádio Nacional de Angola, "palavras e textos", escutei da boca de um eminente catedrático da nossa praça a afirmação de que o conceito identidade não passa de mera falácia, introduzida pelos colonizadores para melhor dominarem os povos colonizados. Obviamente, e embora respeitando a sua opinião, todavia não concordei;primeiro, porqueeu considero o lexema identidade como algopalpável, real;segundo: sou defensorde um maior aprofundamento do mesmo, visando o melhor conhecimento dos diversos espaços sócio-culturaisno concerto das várias nações. Penso que na abordagem do nosso catedrático tenha faltado, da sua parte, definir, previamente,o que ele entendeu por "identidade", em poucas palavras: faltou ter explicado aquilo que, em filosofia, é conhecido por supositioterminis ou seja: a necessidade se definir primeiramente os conceitos a serem utilizados na exposição de um determinado tema ou assunto em análise, visando um entendimento homogéneo, de maneira a se evitarem desnecessárias antinomias hermenêuticas.
Mas, voltemos ao tema principal.
- Quem somos?- De onde viemos? - Para onde vamos? Ou, o que vem a dar no mesmo:nós, enquanto angolanos, qual é a nossa real Identidade?. São, na verdade, questões quentes mas que,não obstante tudo,a citada obra tenta responder, com a frontalidade que as mesmas merecem.Com efeito, a Angolanidade enquadra-se,como que num articulado harmonioso, com a História Pátriaporquanto é ao longo das várias etapas cronológicasque,passo a passo, se verifica o lento desabrochar endógeno do conceito (angolanidade) que, paulatinamente, se vai consolidando,rumoà sua completa maturação.
É, pois, à volta destes três pilares analíticos (quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?) que todo o trabalho se concentrou. Sou, pois, de opinião de que a Angolanidade não deve ser vista com a lupa embaciada pelo orvalhode um calculístico rigor científico-matemático, mas sim nocontexto dinâmico da vida humana,alicerçada na convivência social,esta, por sua vez, enxertada numa atmosfera de socialização comunitária constituída por vários agregados antropológico-culturais.Ora, é neste momento que surge a pergunta que não se quer calar: terá valido a pena, ou não, o esforço empreendido, neste sentido?
A resposta deixo-a ao critério dos leitores que se debruçarão sobre o trabalho.Entretanto apraz-me informar que, em todo o percursoda elaboração daobra,seguio conselho do grande intelectual africano, o maliano AmadouHampâtéBâ que me disse: (Barros) "compete aos Africanos falar de África aos estrangeiros e não os estrangeiros, por mais sábios sejam eles, falar de África aos Africanos" ("Kaidara, RécitInitiatiquePeul") ao que eu respondi, dizendo-lhe: mestre, concordoplenamente eacho que, de facto, só deste modo é que os africanos deixarão de serem vistos pormuitos cidadãos dos países ditos "mais avançados", como os eternos "bons rapazes selvagens", na polémica e tão debatida visão de um Jean Jacques Rousseau e seus sequazes.Na verdade e aqui entre nós, falar sobre a Angolanidade, com suporte na sua História, nada mais é do que lançar o veemente apelo a todos os angolanos para a premente tomada de conscientização plena da sua endogenidade africana.
Domingos Barros Neto
Author | Domingos F. de Barros Neto |
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Publisher | Mayamba |
Edition no. | 1 |
Year of publication | 2017 |
Page numbers | 135 |
Format | Livro capa mole |
Language | Portuguese |
ISBN | 9789897610967 |
Country of Origin | Angola |
Dimension [cm] | 23 x 15,5 x 0,8 |
About the Author |
Domingos Fernandes de Barros Neto
Natural de Cazengo, Província do Kwanza-Norte frequentou os seminários capuchinho e diocesano de Luanda. É licenciado em filosofia em Itália e em Direito pela Universidade Agostinho Neto. |