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Ao longo de todos esses anos, temos vindo a escutar com alguma frequência, uma música angolana de matriz sócio-política, em cujo enredo esta descrito um conflito discriminatório de um indivíduo [de raça caucasiana] para um negro [do tipo reguila e consciente], alias, uma atitude baseada no cinismo inter-pessoal que antagonizava dois povos em desavenças, que por ironia do destino, coabitavam o mesmo espaço territorial.

 

Tratando-se de uma situação sistematizada, na qual era visível uma discórdia por parte dos autóctones que viviam marcados por aquela supremacia branca [1575-1975], este ambiente vivido, em meio à uma época na qual imperou o Fascismo, em Angola - daí, a gritante ausência de liberdade - mexeu com todos os que passaram um mau bocado, no cumprimento de regras e métodos implementados pelos colonizadores portugueses.

 

E foi nessa vivência suburbana que, através de uma linda canção, ouvimos um jovem angolano contar o seu próprio atrevimento, segundo a qual ele dera ordens expressas a um motorista de táxi para que aumentasse a velocidade da viatura porque queria ficar à porta da residência da sua namorada.

 

Sendo um pedido muito normal, porquanto o cidadão custearia o percurso rodoviário naquela rota suburbana , o passageiro exigiu o "taxeiro" a circular debaixo da chuva, e, em meio de charcos. Ao recusar o pedido, o motorista informou ao cliente : " sou chofer e não barqueiro", e logo depois surgiu uma resposta que lamentou o seguinte : " ela não tem culpa de morar no subúrbio quanto à chuva, é obra dá natureza", explicou.

 

Mas a pergunta que não se cala é a seguinte: " como foi possível o tema "Chofer de Praça" atingir a intemporalidade, quando neste último meio-século ela galgou sozinha? A resposta está simplesmente no seguinte: qualidade da letra, postura do letrista, consciência do autor e talento do canto. Luís Visconde, o carismático!

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Entre 1965 e 1966, António Pinto da Cruz andava deveras interessado em desfazer-se da situação de desocupado, para assumir um outro rumo na sua vida. Estudar e depois aderir aos princípios religiosos da Igreja Católica, eram parte de um plano com os quais ele pensava recuperar algum do seu tempo perdido. Ao tencionar reintegrar-se como estudante de um colégio, Pinto da Cruz jamais pensava em desistir de cantar, e como equilíbrio, ele costumava deslocar-se sempre à baixa de Luanda para assistir às distintas edições do "Chá das 6", um programa de descobertas de novos valores realizado no palco do Cine Restauração.

 

Quando terminassem as actuações no "Chá das 6", o Pinto apanhava o Machibombo número 4 - com destino ao São Paulo - ou o 16 que parava na Vila Alice. Dali, ele caminhava pelas pontas dos pés até ao Marçal, como faziam outros bangões que também sapateavam; Lindo da Popa, Quim do Morais, Malé Malamba, Barceló de Carvalho, etc.

 

Não obstante ter sido um indivíduo muito inteligente e [até] letrado, Pinto da Cruz deixou muito tarde o isolamento do Marçal e retomou seus estudos, mas, sem sucesso. António Pinto da Cruz não teve sorte no regresso aos estudos, porque chumbava sempre. Além de talentoso, ele era um verdadeiro intelectual porque lia muitos livros. Ao começar a frequentar as primeiras sessões religiosas da Igreja Católica, ele tinha já um outro desejo : enveredar num caminho mais honesto.

 

Apesar de um jovem introvertido que observava muito e falava pouco, Pinto da Cruz tinha também a intenção de emigrar para o Congo, onde pretendia ali juntar-se ao massivo grupo de nacionalistas angolanos. Muito antes de ser preso, entre 1964 e 1965, o Pinto fazia também parte dos grupos de ritmos modernos, contudo, ele depois ressurgiu ao lado do seu amigo Duia [dos Gingas] para mais tarde ligar-se também aos elementos dos Negoleiros do Ritmo. Ele morou no Marçal entre a loja do Teixeira no Piego, a escola 147 e a Lagoa do sô Moreira junto ao Capoloboxi. Luís Visconde era um líder!

 

Desabafo de Mário Gama

More Information
Author Miguel Neto
Publisher Miguel Neto
Edition no. 1
Year of publication 2024
Print edition page numbers 372
Format EPUB (DRM - Gestão de Direitos Digitais)
Language Portuguese
ISBN n.a.
Country of Origin Angola
Devices Compatível com Windows (7 e mais recente), macOS (10.12 e mais recente), iOS (iPhone, iPad, iPod Touch), Android, Kindle Fire e Chrome OS.
About the Author

Fui educado a observar atentamente as referências, por isso gostava muito de boa música. Nenhuma delas desagradava o meu ouvido porque ainda não tinha vício de as seleccionar.

 

Meu tio Miguel "Dibassano" Júnior - um bom apreciador de música - era também aspirante a cantor, juntamente com os seus amigos, porém, uns quantos criadores artesanais que não passavam de uma espécie rara de domésticos. Nenhum deles ousou subir a um palco porque definiam-se mais nos ritmos modernos. Daí que cada um deles tinha um ouvido mais apurado para a música Pop.

 

E nas horas vagas eles ensaiavam os grandes sucessos de Adamo, Allain Barrière, Christophe, Giani Morandi, Tom Jones, Beatles e tantos outros, mas, sem desprimor para jovem guarda de Wilson Simonal, Ronnie Von, António Marcos, Nelson Ned, Nilton César ou Agnaldo Timóteo, em cuja classe é liderada pelo romântico Roberto Carlos [o Rei da MPB].

 

E naqueles tempos eu também convivia com o Damião, o Pombal, o Pinto, o Brunhoso, e até com o kota Nome que, diga-se, todos eles ajudaram-me a construir a minha própria personalidade como homem de cultura e entretenimento. Quase todos os dias à tarde, eles procuravam um local seguro para fazerem algum barulho com apenas uma guitarra acústica que servia de suporte, aos grandes hits franceses, britânicos ou americanos.

 

Eu era também ali incluído porque muitos dos participantes dispensavam o quintal de suas casas para divertirem-se ali na C7, onde meu avô tinha plantado cinco mangueiras frondosas. E foi [então] a partir daí que comecei a dedicar-me à escrita, para mais tarde assinar crónicas nos Jornais

 

"A Capital" (2003-2004), "Manchete" (2014-2016) e "24 Horas" (2017). Outras obras : o livro de crónicas "A Sarrabulhada Vol. I" (2009), o DVD "Da África para América" (2011) e outro o livro "O Retrato da minha trajectória" (2014). Actualmente realizo e apresento dois programas musicais distintos : na LAC o RC (1993- 2018) e na televisão, o "Explosão Musical", na TPA-2 (1996-2007, Fev. 2018).

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