Um Oceano, Dois Mares, Três Continentes

A forte impressão causada pela leitura do romance de Wilfried N'Sondé, sobre uma personalidade muito mal conhecida da História angolana, levou-me a extrair dele uma peça de teatro a que dei o bem nutrido título de Filho bem-amado do Kongo: Nsaku Ne Vunda/aliás Dom António Manuel /aliás Marquês de Funesta/ aliás O Negrita. Insatisfeito por ter eliminado na peça a prodigiosa imaginação do romance e a sua minuciosa e emotiva descrição de personagens e situações, senti-me quase na obrigação de o traduzir na íntegra para partilhar com outros leitores de língua portuguesa, em especial os angolanos, o imenso impacto que ele produz.
In NOTA DO TRADUTOR, José Mena Abrantes Ele chama-se Nsaku Ne Vunda, nasceu cerca de 1583 nas margens do rio Kongo. Órfão criado no respeito dos antepassados e das tradições, educado pelos missionários, baptizado Dom António Manuel no dia da sua ordenação, ei-lo, mesmo no começo do século XVII, encarregado pelo rei dos Bakongo de se tornar seu embaixador junto do papa. Dizendo adeus ao seu Kongo natal, o jovem padre ignora que a longa viagem que devia levá-lo a Roma vai passar pelo Novo Mundo, e que o barco no qual está prestes a embarcar está carregado de escravos... Romance de aventuras e narrativa de formação, Um oceano, dois mares, três continentes, mergulha esse personagem desconhecido da História, verdadeiro Cândido africano armado de uma inesgotável compaixão, numa série de peripécias que vão questionar a sua fé em Deus e nos homens. Com ardor poético e sinceridade generosa, Wilfried N'Sondé assina uma extraordinária defesa da tolerância exaltando as necessárias virtudes da igualdade, da fraternidade e da esperança.

In NOTA DO EDITOR FRANCÊS, Actes Sud